Pantomima

Um teatro tem sido minha vida inteira...e eu...numa próclise necessária, me divirto com tudo isso...eis a pantomima,um fanzine que não foi...(desboto linhas azuis e pretas num guardador de memórias em papel reciclado...) em tempos vindouros edito tudo isso...ah...amo a palavra "alma"...alma nobre e gentil(?)

quarta-feira, novembro 01, 2006

CONSTRUÇÃO

Antes, dava pra ver metade da cidade daqui....e era o vento mais fresco da casa...a última janela que fica exatamente do lado direito da morada (na minha perspectiva)...de lá pode-se ver uma goiabeira, um pé de abricó e muitas luzinhas ( provavelmente de postes e carros) de todas as cores que piscam ou mantêm-se estáticas do outro lado da cidade. É o lado mais gostoso da casa. Do lado direito há o meu banheiro, o escritório e a escada de madeira que leva ao porão. Do banheiro pode-se ver os telhados antigos da vizinhança (ultimamente uma vizinha rompe a tradição trocando todo o telhado)
Dava pra ver luzinhas...há agora uma construção...casas de aluguéis...o que me fez recordar dois fatos importantes...a leitura de O homem... e o cortiço imaginado por Aluísio...
É...sei...texto nada criativo!
Só queria deixar registrado...
Mas quando vi aquela construção...lembrei mesmo de Rita Baiana e da amável Magnólia...
E hoje...não vejo mais luzinhas e nem metade da cidade...há paredes ocas...não há gente...
Que serão os novos vizinhos ?

O primeiro conto de uma mulher

A mulher branca, pálida, deixou, com enorme letargia, o leito. Cambaleante, pés descalços, segue ao banheiro.Os olhos, ainda fechados, são embebidos de água. No espelho, o reflexo de uma desconhecida. É ela, mais rechonchuda, mais redonda.
Hoje é domingo,deveria permanecer um pouco mais, é o que faz. Olha pela janela e vê a chuva fina .
Alguns segundos, sentada à beira da cama, suporta os braços em cima do joelho. Um vômito incerto, náuseas. O que comera ? Cabeça ainda curvada, tenta lembrar da noite anterior, das semanas que se passaram.Examina o corpo...os pés estão inchados.

Levanta lentamente, liga a luz e reexamina os pés. As pernas, as coxas...tão gordas agora. Depois das coxas, a pelves, mais redonda, esticada, oval.
Os seios, nunca tão grandes, parecem mais bonitos.

Um vírus, bactéria ? Lembrara de uma nova gripe...

Voltou à cama. Dormiu um pouco mais. Um fome súbita.
Um doce, pães, os enlatados, digeridos infantilmente.

Enjôo.. o cheiro dos móveis .. em poucos minutos um inchaço na barriga

Volta ao quarto...vai ao banheiro...sente fome...volta à cozinha

A barriga aumenta...agora tão pesada

Sente dores na costa...
Dorme um pouco

Acorda e sente uma pontada...a primeira pontada
Um chute...devagar...um, dois e agora mais rápido

Contrações

Bem pequenas
Mais rápidas

E mais fortes
Há dor...a mulher geme...agarra-se à cama...aos lençóis e sente dores...são terríveis

Abre as pernas .. geme... dor aguda...grita ... pede ajuda...
Grita de novo...
Um estalo...um pulo...
A última dor...
Um grito

Aliviada...através do espelho...
Um novo ser...um conto verde

Não há movimento
Jaz ...o primeiro conto
Um pouco verde...um tanto morto